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e acordo com o americano Nicholas Carr, formado em inglês e mestrado em literatura
americana descreve que a rede mundial esteja nos idiotizando, quando a maioria
das pessoas só via os benefícios da internet e as maravilhas do Google. Ele relatou que, como usuário intensivo da
internet, vinha observando que sua capacidade de concentração e contemplação já
não era a mesma. Ler um livro estava virando um sacrifício.
Após três anos, o
escritor acha que melhorou um pouco, mas à custa da redução do seu tempo online.
"Mudei alguns hábitos", diz. "Fechei minha conta no Twitter e no
Facebook. Os dois prestam um serviço útil, mas provocam muita distração,
mandando mensagens o dia inteiro." Agora, com a pesquisa que mostra que o
Google pode estar afetando o modo como a memória humana funciona, Carr sente-se
como se já soubesse disso. Do estado do Colorado, ele relatou que seu livro,
The Shallows, trata dos efeitos da internet sobre o cérebro humano.
A pesquisa sobre o
cérebro humano é fascinante e mostra a enorme plasticidade do cérebro. Com os
avanços da tecnologia a memória humana já passou por mudanças com esse advento de
comunicação e informação, tendo a nossa disposição um estoque tão vasto e tão
fácil de acesso. Talvez estamos numa era em que teremos cada vez menos memórias
guardadas dentro do cérebro.
O exagero no acesso a
rede, a perda de motivação para memorizar informações pode degradar nossa
capacidade cognitiva. Na história humana, sempre guardamos memórias em lugares
externos, fora do cérebro. A diferença, agora, é que a internet é imensa. O
cérebro pode descartar um enorme volume de informações.
Antes do uso da
internet, tínhamos lugares externos para complementar nossa memória. Atualmente,
pode substituir nossa memória o que torna um perigo. A memória fora do cérebro
não é igual à memória dentro do cérebro. O que guardamos na cabeça nos permite
fazer associações, conexões, aprofundar o conhecimento, elaborar, reelaborar. É
isso que nos torna únicos.
Sócrates, o filósofo
grego, reclamava do advento da escrita dizendo que era um estímulo ao
esquecimento. Temos ai uma diferença, ele reclamava do ato de escrever antes da
forma do livro ser inventada. Estava certo no estímulo ao esquecimento
proporcionado pela escrita, mas a chegada do livro ajudou a ampliar a memória
humana e contribuir com o aumento da nossa atenção, da nossa capacidade de
concentração.
É possível que a
internet, em algum momento no futuro, também seja complementada por outra
invenção ou comece a ser usada de um jeito diferente, de modo a passar a
exercer um papel semelhante ao que o livro teve para a escrita. Mas,
examinando-se a história da internet nos últimos vinte anos, o que se vê é uma
direção contrária. Todos acessam a internet para obter informações rápidas,
curtas.
A internet estimula certo
modo de pensar e desestimula outros. O pensamento atento, focado, concentrado é
algo que ela claramente desencoraja e estimula o usuário a folhear, passar os
olhos, não a mergulhar com profundidade. Tornando nosso conhecimento mais amplo
e mais superficial.
É preciso que o
estudante tenha o hábito da leitura, mas sem desconectar do mundo. Ser cuidadoso
e previsível na mudança de hábitos online ele consegue manter esse equilíbrio
no uso da distração e mudança de foco para dividir a atenção.
Fonte: Revista Veja, edição 2226 – nº 29. Julho de 2011.
Adaptado